Era setembro de 1968, precisamente dia 07, uma linda manhã de sol, a rua direita com centenas de pessoas a espera do desfile em comemoração a nossa independência. Eu com meus quase sete anos de idade, bandeira do Brasil em punho aguardava ansioso com meus pais em frente a Casa Brando, a “Escolinha de Comércio” descer tocando os corações dos pinhalenses, com a melhor fanfarra daquele momento. Aquele garoto sentado a beira da calçada, assistia arrepiado e emocionado a chegada das zabumbas com os jovens fazendo malabarismos com as baquetas rodopiando pelas mãos e em seguida emitindo o som característico que só a zabumba tem, alinhados e em marcha com todos os instrumentos em sintonia e ao final as cornetas enchendo de alegria e emoção toda a população presente.
Lembro como se fosse hoje a vontade de estar junto deles tocando bumbo, mas o instrumento era mais alto do que eu, enfim, a “Escolinha de Comércio” passou, eu fui crescendo, toquei surdo na fanfarra do Cardeal Leme, mas meu coração não esquecia da “Escolinha”.
O tempo não para. Acabei o colegial, fiz o Tiro de Guerra, cursinho, faculdade, casei, formei família, os filhos cresceram e acabei não indo mais aos desfiles do dia sete.
Sete de setembro de 2011 resolvi assistir ao desfile, e ao chegar próximo da escola Cardeal Leme encontrei algo que estava adormecido em meu coração: simplesmente encontrei a fanfarra da “Escolinha de Comércio”. Feliz da vida fui cumprimentá-los e percebi que eram, em sua maioria, aqueles jovens de 1968, já com os cabelos grisalhos, mas nos olhos a mesma euforia e alegria de 40 anos atrás. Alguns deles estavam com as golas da camisa enroladas no talabar, fui arrumando um a um e num toque de mágica aquele menino de quase 07 anos tomou o lugar do homem de 49 anos, desci em direção à rua direita e parei em frente a Casa Brando, fiquei exatamente no mesmo lugar daquele 07 de setembro de 1968, ao enxergar as bandeiras e as meninas desfilando fui tomado por uma forte emoção, elas passaram, todos aplaudindo, e em seguida as zabumbas com aqueles jovens fazendo os mesmos malabarismos com as baquetas, senti o mesmo arrepio, diferente, pois, acompanhado de lágrimas de alegria, de poder sentir as mesmas emoções que senti quando menino. No ano passado, levantei bem cedo e subi correndo para não perder nem um minuto da “Escolinha”, arrumei a gola de todo mundo de novo e senti a minha meninice voltar à tona novamente. E aí veio a surpresa, nosso querido amigo Maso me convidou para desfilar na “Escolinha de Comércio” no dia 07 de setembro deste ano levando a bandeira da Escola, aceitei de imediato. Quando o desfile começou eu ainda não acreditava o que estava acontecendo, até que fomos lentamente descendo a rua direita e chegamos em frente a Casa Brando, naquele exato momento senti um frio correr minha espinha e vi novamente aquele garoto sentado na beira da calçada esperando a “Escolinha” descer, não consegui conter a emoção e as lágrimas de felicidade rolaram rosto abaixo.
Pude constatar naquele dia que nossos sonhos se realizam, as vezes leva 45 anos para se concretizar. Fica aqui uma dica para você: Nunca pare de sonhar...